terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Monstros

Existe um monstro ali. Escondido em cada passo em falso, em cada gesto inconsequente, em cada momento de desespero mal disfarçado...A vítima o abriga e nem se dá conta do fato. Oferecendo calor nas noites frias e brancas, nas noites vermelhas e sorridentes, nas noites quentes e desidratadas, nas noites lentas e anestesiadas, ela o alimenta. Existe um monstro ali. Ninguém percebe seu olhar guloso, seu olhar depressivo, seu olhar suicida...Alimentando-se da dor e da sedutora autodestruição ele cresce. Ele cresce. Seus irmãos sono e morte o ajudam silenciosamente, com subterfúgios, facilidades e regalias. O fechar de olhos momentâneo e inofensivo, o gás que impregnam e intoxica, o sono falso que nunca é desperto. A garagem, a cozinha, o banheiro...As lâminas, o aço, o ferro, o frasco de comprimidos. A água, o álcool, o fogo, a brasa, as cinzas...Facilidades...Amizades...Existe um monstro ali. Sim, sim. Faz um tempo que eu percebi. E eu o alimento. Eu o acaricio. Não tenho vergonha, nem peço ajuda. Espero o dia da mordida, o dia da fuga. Espero ansiosa, espero sem medo...Existe um monstro ali no espelho...

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